segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Trovao, ventania e raio...

... De enxergar o pago inteiro! 

Ijuí - Sao Miguel das Missoes. 89 Km 

Acordamos mal dormidos, e fomos levar a Regina( bike do Fabrício) pro conserto. Perdemos quase o dia inteiro pra conseguir ajustar ela, enfim saímos com o céu nos avisando : vai chover. Nao demorou muito e a chuva forte caiu, como pra lavar o espírito, todos riam. Adrenalina forte, a visibilidade era pouca, desciamos as ladeiras 50 km/h desviando dos caminhoes, cada movimento tinha que ser preciso, o asfalto estava escorregadio e nossas bikes ( exceto a do Lúcio) nao estavam com pneus próprios pra chuva, continuamos assim mesmo..e como vovó já dizia: " depois da tempestade vem a calmaria", e logo a chuva de verao se foi.

O relógio já contava 22:30 horas, paramos num posto de gasolina no meio do nada e a próxima cidade estava a 16 km de estrada com más condicoes e fora da rota ainda por cima. Estavamos exaustos e precisavamos de uma boa noite de sono, a única saída era continuar e pedalar mais um pouco.

Nós nao sabìamos ainda, mais os próximos 16 km seriam os mais longos das nossas vidas.

Pegamos a rota rumo à Sao Miguel das Missoes, ajustamos as nossas lanternas, sinalizadores , montamos na bike e "vamos lá". " Dois quilometros depois, já tinhamos nos afastados de qualquer luz, nenhum carro passava, nenhuma casa, nenhum posto,nada. Estavamos rodeados de campo e nossa luzes só nos possibilitavam ver 2 metros a nossa frente. Nao tinhamos referencial nenhum de qual velocidade estavamos, se teria uma curva ou nao, sò sabíamos se estavamos descendo ou subindo pela tracao da bicicleta. Atencao total, respiracao pesada, um buraco na estrada poderia resultar em uma queda feia e seria o fim da viagem pra alguem, possivelmente. Parar ali seria loucura, tinhamos que continuar. No horizonte um clarao, seguido de um barulho estrondoso, pensei : "vai chuver, fudeu". Em menos de 5 minutos a água caiu violentamente, e se antes a situacao estava crítica, imagina agora
.

Nos proximos minutos, o grupo pedalou em silencio, o medo era visível, até nos que nao admitem. Segurei firme na bike, esperando a queda. Os relampagos eram as únicas luzes guiando o caminho, o tempo passava devagar. Adrenalina máxima, é como desafiar a natureza, os limites, o bom senso. Depois de muito tempo, muito tempo mesmo , conseguimos enxergar as luzes redentoras da cidade, aceleramos o ritmo, queriamos sair logo dali. Nao sei como até hoje, mas chegamos sem nenhum arranhao em Sao Miguel das Missoes, fomos direto pra um hotel descarregar a bike, tomar um banho quente e dormir que nem anjo, nós merecíamos.

Nos acomodamos no hotel, preparamos um " macarrao clandestino" utilizando o fogareiro dentro do quarto haha, estavamos tao exaustos que dormimos antes do macarrao ficar pronto, bueno acordamos, comemos e deitamos num colchao pela primeira vez na viagem, quase nao acreditei.

Acordamos e fomos visitar as ruínas jesuíticas. Lá encontramos dois companheiros de pedal, um estava vindo de Assunción - Paraguai e ia até Joinville,  o outro saiu de Cruz Alta- RS e ia em direcao as "Missiones Argentinas". Conversamos sobre as pedaladas enquanto visitavamos o território arqueológico missioneiro. Ruínas imponentes, difícil conceber uma construcao tao complexa, com tao poucos recursos no meio de um continente quase inexplorado, naquela época pelo menos (leia-se sarcasmo). Em meados do séc 17 o povoado de Sao Miguel das Missoes contava com 7 mil indígenas e teve sua derrocada após as guerras guaraníticas e a revolta dos indígenas contra a demarcacao imposta pelo Tratado de Madri.

Fotos depois. (temos uma foto do momento em que chegamos no hotel, ainda na chuva e tal) 

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